terça-feira, 16 de abril de 2013

A verdade por trás do universo sertanejo, “universitário” ou não

 
Por trabalhar há quase duas décadas lidando com o show business como jornalista/editor/redator-chefe em revistas “físicas”, escrevendo aqui no portal do Yahoo! e, mais recentemente, botando minha cara e minhas opiniões sinceras em programas de TV, acabei aprendendo e descobrimento uma série de macetes para entender como funcionam os meandros da carreira dos artistas em geral. Por outro lado, até hoje fico espantado com a ingenuidade do público em relação ao meio artístico e, principalmente, aquilo que se convencionou chamar de “sucesso”.
A própria palavra nos dias de hoje adquiriu um sentido completamente diferente do que era no passado, acompanhado agora por um olhar muito mais frívolo e descartável por parte do público. “Sucesso” significava vender muitos discos, fazer turnês concorridas e estabelecer uma carreira estável e bem equilibrada, não importando o som que o artista fazia. Hoje a palavra se tornou tão banal que vale para qualquer coisa: ter vídeo com milhares de acessos no You Tube (mesmo que falsos), aparecer diariamente em sites de fofocas sem ter feito algo que preste em termos artísticos, ser alvo de chacota por parte do próprio público... Tudo é “sucesso”!
Frequentemente sou abordado nas ruas e várias vezes questionado a respeito de alguns detalhes e situações deste universo. Como disse anteriormente, fico surpreso com a ingenuidade com que as pessoas enxergam este mundo considerado “à parte” pelo povaréu. Explico pacientemente a estas pessoas que tal “mitificação” do meio artístico é um grande erro, já que as pessoas são seres humanos normais, como todo mundo, com defeitos e qualidades. É lógico que muito artista acredita estar acima dos mortais, mas aí é questão de prepotência e egolatria de cada um. O que procuro mostrar, em poucas palavras, é que o meio artístico tem as mesmas características de outros setores profissionais.
Veja, por exemplo, o caso do meio “sertanejo”, seja ele “universitário” ou não. É um universo tão cheio de falcatruas, puxadas de tapetes, fofocas, espionagens, subornos e situações eticamente deploráveis como qualquer outro, seja um banco, uma multinacional, uma indústria, um clube de futebol ou uma empresa qualquer. Resumindo: é um mundo tão podre quanto qualquer outro.
Conversando em “off” com as pessoas envolvidas direta e indiretamente a ele, presenciando cenas e situações inacreditáveis e, ainda por cima, com um certo distanciamento, consegui montar na cabeça um quadro que me permite escrever algumas poucas linhas neste espaço.
Itens como “faturamento”, “público”, “repertório” e “relações profissionais/pessoais” são tratados de maneira muitas vezes nojenta por parte de artistas e empresários. Já escrevi isto algumas vezes e repito agora: se os fãs soubessem o que um artista pensa realmente a respeito de seu público, ninguém nunca mais sairia de casa para ir a um show ou comprar um disco no camelô da esquina.
Outra coisa: há uma enorme rivalidade dentro deste mercado. E isto não é somente protagonizado pelos próprios artistas e duplas, mas principalmente pelos “escritórios de agenciamento”, que detém os direitos de dezenas de nomes, famosos ou não, e que são administrados com mão de ferro por grupos de empresários muito próximos daquilo que a gente conhecia como “Máfia”.
É uma competição sem fim para ver quem faz mais shows, quem cobra os maiores cachês, qual turma é mais poderosa... Shows com pouco público ou eventos que fracassam são motivos de comemoração por “escritórios” rivais. A impressão que se tem é que esta competitividade desenfreada vai render algum prêmio em dinheiro ou troféu no final do ano. A vaidade, a ganância e o ego são muito mais importantes que a música em si.
Este tipo de cenário surgiu quando três “escritórios” diferentes resolveram se unir e montar uma turnê chamada “Amigos”, reunindo três das maiores famosas duplas dos anos 90 – Chitãozinho & Xororó, Zezé Di Camargo & Luciano e Leandro & Leonardo – e que acabaram monopolizando a atenção da maioria dos contratantes de shows do Brasil. E assim continuaria sendo, mas a morte precoce de Leandro fez o projeto ter um fim. Foi a deixa para que dezenas de outros “escritórios” fossem criados para capitalizar um mercado em expansão.
Para você ter uma ideia, o Brasil inteiro tem hoje um grupo de pouco mais de 20 contratantes poderosos, que monopolizam o esquema de contratações de artistas para os eventos mais importantes do ano. Somente os “escritórios” ligados a este grupo conseguem levantar uma boa grana no empresariamento de seus artistas, o que permite o pagamento do famoso “jabá”– agora conhecido eufemisticamente como “verba para divulgação” - para rádios e programas de TV, além de uma série de outras “regalias”. Quem está fora, fica com as migalhas...
É por isto que o tal de “sertanejo universitário” é um verdadeiro celeiro de músicas ruins e artistas sem talento. Todo mundo quer aparecer, pouco importa se por intermédio de uma música de baixíssima qualidade. O que vale é conseguir um hit, comprar um carro de luxo e contar com periguetes na porta dos camarins, implorando você sabe bem pelo quê. Ninguém pensa em uma carreira sólida a longo prazo. Ter “sucesso” hoje é um emprego, um negócio, de curtíssima duração.
É claro que tudo isto acontece nos bastidores. Nos programas de TV e nos shows todo mundo é “amigo”, todo mundo é “bacana”, todo mundo tem “música boa”, todo mundo tem “sucesso merecido”, uns dão tapinhas nas costas dos outros como se fossem todos de uma mesma família... Tudo isto emoldurado por sorrisos de plásticos tão falsos quanto uma nota de R$ 8. Vale qualquer coisa para esconder a realidade das fãs...
Você leu recentemente que o Fausto Silva descobriu um esquema dentro do programa dele – leia aqui– para beneficiar determinados artistas, que pagavam uma bela bolada para membros da produção? Já percebeu que duplas e artistas surgem e desaparecem em um piscar de olhos? Nunca reparou nisto? Então comece a prestar atenção...

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