quarta-feira, 9 de julho de 2014

Jeff Beck fez aniversário e merece MUITO a sua atenção



A notícia de que um dos mais mitológicos guitarristas de todos os tempos havia completado 70 anos de idade não teria um impacto tão grande se o aniversariante não fosse Jeff Beck. Não tanto por ele não aparentar a idade que tem, mas principalmente pelo legado musical que vem deixando ao longo de sua vida. Poucos são os mestres das seis cordas que se embrenharam em carreiras em que a palavra “surpreendente” assumiu conotações mais que especiais. E Beck é um deles.
Desde seus tempos de Yardbirds, passando pelo seu próprio grupo - que revelou o talento de Rod Stewart e pariu Truth, um álbum clássico e incontestável - e por seu power trio ao lado do baixista Tim Bogert e do baterista Carmine Appice, Beck desnorteou críticos e fãs, sempre redirecionando seu foco musical quando pressentia os ventos da acomodação em seu rosto.
A partir da segunda metade dos anos 70, ele enveredou por uma seara fusion, só que bem distante das loucuras supersônicas de John McLaughlin com a sua Mahavishnu Orchestra. Optando por privilegiar os grooves mais cadenciados ao invés de experimentalismos rítmicos, Beck acabou por redefinir o conceito de jazz rock, a ponto de ter influenciado todas as gerações posteriores.
Eu poderia “chover no molhado” aqui e tecer elogios infinitos e comentários redundantes a respeito do quanto é essencial que você ouça os discos antológicos que Beck gravou neste período - Blow by Blow (1975), Wired (1976) e There & Back (1980) – e de como estes álbuns certamente vão abrir o seu cérebro e orelhas para novos sons. Prefiro ilustrar a minha admiração pelo som do cara indicando uma pequena obra prima que pouquíssima gente cita ao falar de Jeff Beck.
Gravado ao vivo em 1977, Live é um testemunho real, cru e incontestável da fase fusion que marcou a carreira de Beck naquela época, uma espécie de foz onde as águas provenientes dos já citados Blow by Blow Wired se encontraram em cima do palco e produziram um estrondo absurdo.
Teoricamente, Beck iria atuar apenas como convidado especial em uns poucos shows que Jan Hammer (ex-tecladista da Mahavishnu Orchestra e parceiro de Beck em Wired) estava fazendo com sua banda. O “problema” é que o guitarrista acabou se transformando no centro das atenções, a ponto de fazer uma pequena série de shows virar uma turnê.
Reouvir este disco não trouxe apenas a velha memória afetiva à tona. Trouxe também a sensação de que os discos “ao vivo” hoje em dia são tão fajutos quanto uma nota de R$ 33. Para você ter uma ideia, o álbum começa com Beck e Hammer “duelando” de forma inusitada em “Freeway Jam”: cada um imitando a buzina de um automóvel em seu respectivo instrumento, uma brincadeira que precedia uma espécie de jam session, com seis minutos de total hipnose musical, na qual Beck distribuiu solos faiscantes como se fossem tijoladas nas orelhas do pobre ouvinte.
Em “Earth (Still Our Only Home)”, o suingue generalizado é tamanho que nem mesmo o exagero no uso dos sintetizadores conseguiu esfriar o arranjo. “She’s a Woman”, clássico dos Beatles, é apresentada em versão instrumental bem superior àquela presente em Blow by Blow, com um acentoreggae/rocksteady muito maior e com ênfase no talkbox, enquanto que “Full Moon Boogie” é o retrato mais escandalosamente perfeito do funky boogie que notabilizou os anos 70.
“Darkness/Earth in Search of a Sun”, embora tenha o domínio de Hammer nos solos, é a paisagem sonora perfeita para que Beck despeje toneladas de riffs espasmódicos e extraordinários, ao passo que “Scatterbrain”, ao perder um pouco do frescor da gravação em estúdio em função de um alongamento até certo ponto desnecessário dos solos - Hammer chega a fazer slap em um bass synth -, teve acentuado o seu caráter fusion.
Como se não bastasse o verdadeiro massacre sonoro, o disco se encerra com uma pesadíssima versão de “Blue Wind”, com Beck “fritando” sua guitarra com solos e riffs que provocariam ataques cardíacos fulminantes em uma manada de búfalos enfurecidos, emendando com uma citação da versão de “Train Kept a-Rollin’”, antiga canção de Tiny Brandshaw que Beck imortalizou com o Yardbirds em 1965.
Este live album é o perfeito exemplo de como discos gravados ao vivo nos anos 70 – ao contrário do que muita gente pensa – tinham em uma única faixa mais espontaneidade do que tudo o que foi produzido nesse formato dos anos 90 para cá.

link:

https://br.noticias.yahoo.com/blogs/mira-regis/jeff-beck-fez-anivers%C3%A1rio-e-merece-muito-sua-143322967.html

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